“Me senti feminista pela própria necessidade que ia surgindo dentro de casa.” Assim a diretora de Mulheres da UBES, Brisa Bracchi, conta como descobriu-se feminista antes mesmo de conhecer a definição da palavra. Segundo ela, um almoço em família lhe incentivou a pesquisar mais sobre o direito e protagonismo das mulheres: “Um primo comentou sobre as mulheres precisarem se cuidar para não serem estupradas. Diante deste comentário, começou uma grande discussão”, lembra.
Brisa entrou para o movimento estudantil há 4 anos, através do processo de reativação do Grêmio no Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), campus Central. Desde então, participa ativamente da luta das mulheres em seu estado. Para ela, o movimento estudantil a fez “compreender que a luta feminista não é pela nossa libertação individual, mas sim pela libertação de todas as mulheres”.
Agora, Brisa é militante da Marcha Mundial das Mulheres (MMM) e componente do coletivo de mulheres de sua escola, o MIGA. Em entrevista, ela fala sobre o crescimento das mulheres na política, no movimento estudantil, e a respeito dos ataques promovidos pelo governo Temer à classe trabalhadora feminina. Confira abaixo!
UBES: As mulheres têm crescido no movimento estudantil?
Brisa: Sem dúvidas. As mulheres cresceram, e, além de crescermos, estamos cada vez mais organizadas e feministas.
O protagonismo das mulheres nas ocupações é consequência dessa organização que vem mostrando que lugar da mulher é onde ela quiser, inclusive na política.
UBES: Você acha que o machismo está sendo combatido de forma efetiva nas escolas?
Brisa: As escolas ainda são um ambiente muito machista e opressor, o que não é surpresa, uma vez que é apenas um reflexo da nossa sociedade. A organização das mulheres em coletivos ou no grêmio muda a dinâmica da escola e contribui na construção de um ambiente menos machista, mas ainda estamos distantes de conseguir por completo.
“Em 2015 e 2016 lamentamos a perda da garantia do debate de gênero e sexualidade na maioria dos planos municipais e estaduais de Educação, o que poderia hoje ser uma ferramenta fundamental na construção de uma nova escola.”
UBES: Para você, como as atuais reformas (da previdência e do Ensino Médio) podem prejudicar as mulheres?
Brisa: A atual reforma da previdência ameaça a vida dos trabalhadores e trabalhadoras, nesse sentido, ataca duplamente a vida das mulheres. Impor a mesma idade para homens e mulheres se aposentarem é exigir uma igualdade que não existe durante toda a vida da mulher, que precisa se responsabilizar pela maternidade e pelo trabalho doméstico, pela obrigatoriedade ainda imposta pela sociedade. Sem falar na situação das mulheres do Campo, que praticamente não terão mais como se aposentar após essa reforma. Nós, estudantes secundaristas, não podemos nos enganar achando que essa reforma também não nos ataca. O governo golpista tem um projeto de sociedade que quer voltar a elitizar as universidades, que quer formar uma geração de jovens que não terá mais a chance de cursar o ensino superior. Para esse governo, os jovens da classe trabalhadora devem apenas trabalhar, e continuarem submissos à elite. Tudo isso também está refletido na reforma do Ensino Médio, quando precariza e tecniciza o ensino, com o objetivo de formar uma camada da população que deve sair do ensino médio direto pro mercado do trabalho, sem mais o direito de sonhar e planejar um futuro na universidade. Além disso, a reforma do ensino médio diminui e desvaloriza o ensino da história, sociologia e filosofia, matérias que têm um papel fundamental em uma formação que compreenda os papéis sociais dos setores oprimidos da sociedade.