Na manhã desta segunda-feira (30), centenas de jovens de todo o País enchiam os corredores e o auditório do Centro de Convivência da Universidade Federal do Ceará, campus do Pici, com seus cabelos, cores, vestidos, batons, cabeças e punhos erguidos. Era o começo do 1º Encontro LGBT da UBES.
Com o tema “LGBTfobia Mata!”, a abertura do encontro celebrou a liberdade para que cada um exercesse sua própria identidade e denunciou a agressão e a violência que assassinam 28 pessoas LGBTs por hora no Brasil, segundo estatística de chamados do Disque Direitos Humanos.
“Existem muitos jovens que deveriam estar neste encontro, e não em um caixão no cemitério”, disse o diretor da UBES Márcio Leite, em fala contundente.
O direito de ter individualidades respeitadas e o direito de amar foram temas recorrentes. “Nossa resistência é o nosso amor e nosso amor é a nossa resistência”, afirmou Dediane Souza, secretária da Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT).
Além deles, participaram do debate, mediados pela presidenta e pelo diretor LGBT da UBES Camila Lanes e Ramon Motta: Narciso Junior, coordenador LGBT do governo do Ceará, Mitchelle Meira, da Marcha Mundial das Mulheres e Fórum Cearense LGBT, Andrey Lemos, presidente da União Nacional LGBT, Silvana Brazeiro Conti, da Liga Brasileira de Lésbicas, Willamy Macêdo, presidente da Associação Cearense dos Estudantes Secundaristas (ACES), Janaína Oliveira, da Rede Afro LGBT, Vitor Volpi, da ABGLT e Edson França (Vice Presidente da União de Negros pela Igualdade-Unegro),
Entre uma fala e outra, os estudantes interagiam com gritos que ressoaram o dia todo no Campus do Pici da UFC: “As gay, as bi, as bicha, sapatão / Tão tudo organizada pra fazer revolução”, “Eu vou quebrar esse armário / Sou LGBT, sou revolucionário” e “Eu beijo homem, beijo mulher / A boca é minha, vou beijar quem eu quiser”.
Casos de estudantes punidos na escola por andar de mãos dadas ou se relacionar com colegas do mesmo sexo foram relatados por vários secundaristas durante as falas. “Por isso precisamos debater gênero na escola”, disse Lizandra Dawanny, vice-presidenta da União Sergipana de Estudantes Secundaristas.
O Dia Nacional de Visibilidade Trans, 29 de janeiro, também foi lembrado por muitos convidados como parte da luta por dignidade dos transexuais e transgêneros.
Muito se falou sobre as ameaças do governo de Michel Temer para as políticas e programas de apoio LGBT, mas ainda mais foi dito sobre a necessidade de cada um dos presentes levar as ideias dos debates para suas cidades, ruas, escolas.
“O conservadorismo se organiza para colocar os retrocessos. Precisamos nos organizar também para ocupar câmaras municipais, conselhos de educação, para fazer um contraponto e apoiar os educadores que querem debater gêneros nas escolas”, disse Janaína Oliveira.
Narciso Junior, coordenador LGBT do governo do Ceará, citou políticas públicas para combater homofobia já praticadas no estado: “É possível combater homofobia com políticas públicas: capacitação nas escolas, respeito a trans carcerárias, espaço para artistas trans, disque denúncia para violência contra LGBT e campanha de conscientização”.
Vitor Volpi lembrou que muitas conquistas de hoje não vieram por acaso: “Não caiu do céu o fato de questões LGBT estarem na prova do Enem, não caiu do céu podermos andar de mãos dadas em muitos lugares. Por isso é preciso lutar, sim. É preciso voltar para nossas cidades, ocupar os fóruns, conselhos e discussões. E dizer que nunca mais voltaremos para o armário”.
Os estudantes responderam: “A nossa luta é todo dia / Contra o racismo, o machismo e a homofobia”.
Ao longo do dia, houveram mais três mesas para tratar de temas relacionados aos direitos e dificuldades dos LGBTs: saúde, gênero e bullying.
Por Natália Pesciotta, de Fortaleza