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“Experiência das ocupações deve ser levada em conta para mudar o Ensino Médio”

Ela é professora e coordenadora do Observatório do Ensino Médio, da UFRP, e membro do Movimento Nacional em Defesa do Ensino Médio, criado justamente para acompanhar a reforma, em 2012. Nesta entrevista, Monica Ribeiro da Silva fala sobre os riscos das mudanças nesta etapa e os aprendizados da resistência de 2016.

“As propostas dessa reforma desconsideram quem são as juventudes brasileiras e o que esperam da escola; desconsidera as condições materiais, as condições da docência… E tende, assim, a fracassar.”

 

UBES: A senhora disse, numa audiência, que o Ensino Médio não deve ser um preparatório para o mercado nem para a faculdade. Qual é, afinal, o papel desta etapa?

Monica Ribeiro: Ao longo do século XX, o Ensino Médio foi marcado por uma dualidade na oferta: formação geral e intelectual para a elite e formação técnica e profissionalizante para os filhos dos trabalhadores. Somente com a atual lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB 9304/96) é que conseguimos atribuir ao Ensino Médio, pelo menos na legislação,  o sentido de que ele se destina a oportunizar uma formação geral comum a todos e todas. Essa é uma das grandes perdas da reforma proposta pelo Governo Temer.

UBES: A reforma piorou quando foi transformada em Medida Provisória?

Quando da aprovação do PL 6840/2013 na comissão especial que o elaborou, tivemos a oportunidade de estabelecer um diálogo, pelo Movimento Nacional em Defesa do ensino médio. O Substitutivo ao PL 6840/2013 contempla algumas de nossas maiores preocupações.

A Medida Provisória retrocede no conjunto das propostas, como o incentivo à ampliação da jornada sem que se assegure investimentos de forma permanente, o que resultará em oferta ainda mais precária, aumentará a evasão escolar e comprometerá o acesso de milhões de jovens.

A profissionalização como uma das opções formativas resultará em uma forma indiscriminada e igualmente precária de formação técnico-profissional, acentuada pela privatização por meio de parcerias.

UBES: Existem pesquisas suficientes sobre o ensino médio para orientar uma reforma?

O ensino médio brasileiro tem a necessidade de ser mais conhecido. As propostas dessa reforma desconsideram quem são as juventudes brasileiras e o que esperam da escola; desconsidera as condições materiais, as condições da docência… E tende, assim, a fracassar.

UBES: É comum, entre estudantes que participaram de ocupações de escolas, dizer que aprenderam mais neste período do que em sala. É possível tirar daí alguma sugestão prática?

Aprendemos muito com as ocupações. Eu destacaria pelo menos duas coisas: uma é a experiência de autogestão e de gestão democrática da escola.

Em segundo lugar, as experiências formativas, que associaram aulas em sentido mais convencional com outras formas como oficinas, rodas de conversa etc… Também a definição dos assuntos inovou. Essa experiência, se quisermos levar minimamente a sério uma mudança no ensino médio, não poderá deixar de ser levada em conta.

Esta entrevista foi originalmente publicada no jornal PLUG de janeiro/fevereiro de 2017. Leia a edição: