A Primavera Secundarista, levante dos estudantes que ocuparam mais de 1.000 instituições de ensino pelo Brasil, tem pela frente um inverno rigoroso de luta contra os ataques à educação. É que o projeto “Escola sem Partido”, ou “Lei da Mordaça”, tem ganhado espaço em meio à ascensão de pensamento conservador na sociedade.
A proposta está em tramitação em Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais pelo país afora e conta com a simpatia do governo ilegítimo de Michel Temer.
Em setembro de 2017, munidos da falácia de um ensino neutro, os vereadores de Campinas (SP) aprovaram o projeto de lei 213/2017, de autoria do vereador Tenente Santini (PSD), que prevê medidas no sis- tema de ensino municipal para impedir o debate democrático sobre temas como gênero, sob o risco de professores serem penalizados. A Câmara de Vereadores de Jundiaí, outra cidade do interior São Paulo, também aprovou projeto similar, colocando uma mordaça em torno da educação.
A UBES encabeça campanha permanente contra qualquer ingerência da Lei da Mordaça e defende que, através da reflexão crítica sobre o mundo é possível melhorá-lo e torná-lo mais justo e democrático. “Esse é o sentido de uma educação libertadora: gerar novos saberes para que possamos combater as injustiças sociais e não encará-las como naturais”, diz Camila Lanes, presidenta da entidade.
UBES luta contra as ideias reacionárias que tentam impedir debate democrático dentros das escolas e une estudantes contra a Lei da Mordaça.
Por meio de uma carta ao Estado brasileiro, o Alto Comissariado de Direitos Humanos da Organização das Nações Unidas (ONU) manifestou repúdio ao projeto. “O objetivo da profissão de professor é instruir estudantes a aprender sobre o mundo em muitas formas diferentes: algumas das quais eles e seus pais podem discordar. Se adotado na forma atual, essa lei bastante ampla pode frustrar esse objetivo causando censura ou autocensura significativa nos professores”, diz um trecho da carta.
Ao todo, o Escola sem Partido já vigora em pelo menos outras três cidades brasileiras: Cam- po Grande (MS); Santa Cruz do Monte Castelo (PR) e Picuí (PB); e já emplacou, pelo menos, 62 projetos de lei em casas legislativas municipais por todo o país. Em âmbito federal, dois projetos idênticos tramitam no Congresso Federal, o Projeto de Lei 867/2015, de autoria do deputado Izalci Lucas (PSDB-DF) e o Projeto de Lei do Senado 193/2016 do senador Magno Malta (PR-ES), que pretendem alterar a Lei de Diretrizes e Bases da Educação para a inclusão do “Programa Escola Sem Partido”.