A cineasta Tata Amaral, diretora de “Trago Comigo” (2016), participou na última quinta-feira (7) da mesa “A cultura das mulheres muda o mundo”, no 4º Encontro de Mulheres Estudantes da UBES.
No final dos anos 1970, participou dos movimentos estudantis e destacou que hoje é claro o protagonismo das mulheres no movimento, e que esse espaço conquistado vai possibilitar a discussão de muitas questões importantes para a resistência contra o machismo em todos os espaços, em especial nas escolas.
UBES: Quando você participou do movimento estudantil, você já via a cultura e o cinema como essa ferramenta de mudar o mundo e ampliar o espaço das mulheres?
Tata Amaral: Eu me envolvi no momento seguinte ao momento de redemocratização do país e cheguei a participar de grupos de mulheres. E eu fui a primeira da minha geração a fazer curta e longa-metragem. Era um sonho. Antes eu não visualizava tão claramente essa questão do machismo no meu meio profissional. Isso veio pra mim há dois anos. Hoje eu vejo muito claramente e minha filha me ajuda bastante. Ela me mostra os editais e para onde os recursos são destinados. Hoje eu vejo essa discrepância de recursos e para onde a maioria deles está indo, em geral para projetos de homens.
UBES: Você observa muitas diferenças entre o momento em que esteve envolvida com o movimento estudantil e o momento atual, com essa geração de meninas estudantes que militam hoje?
Tata Amaral: Sem dúvida. O que eu acho notável é o protagonismo das mulheres em todos os lugares do movimento hoje: é visível nas fotos e nas narrativas. E é o que surpreendeu principalmente de dois anos pra cá. Foi uma surpresa perceber a liderança feminina quando essas imagens começaram a ser divulgadas em especial pela mídia independente. Isso é maravilhoso e estamos falando de uma geração que chegou com esse protagonismo para trazer as discussões que precisam ser trazidas e estão aí represadas e censuradas há anos.
UBES: De que maneira você acredita nessa mudança no mundo por meio da cultura das mulheres?
Tata Amaral: Uma sociedade como a nossa – e eu não estou falando só do Brasil, mas da América Latina e até do mundo – é uma sociedade que mata mulheres. Precisamos que a cultura das mulheres seja praticada em todos os lugares em que a gente vai. Eu atualmente não frequento seminário ou debate que não tenha a maioria de mulheres, ou que não tenha negras e negros, porque senão o que eu vou fazer lá? Se todas as mulheres fizessem isso teríamos um movimento natural de resistência. Essa também é uma forma de resistir.
UBES: A palavra cultura também significa um conjunto de costumes, artes e crenças de um grupo. Quando falamos em “cultura da mulher”, que elemento você considera mais importante?
Tata Amaral: Falando do ponto de vista artístico, a primeira coisa e mais importante é a nossa voz. Precisamos ouvir as vozes femininas. Ouvi-las na música, na poesia, no cinema, nas representações artísticas. Outra coisa importante: eu sou contra essa ideia de que é preciso dar voz às pessoas. Elas já têm voz, mas precisam emiti-la. E esse é um dos principais pontos: precisamos discutir como emitir essa voz, como comunicar. A voz existe mas está sendo calada, não está sendo ouvida. Nós temos que criar pontes para tornar isso possível. Com isso em mente, num segundo momento precisamos observar e refletir sobre o que estamos produzindo. E produzir situações. Por exemplo, em universo com professores e alunos, podemos promover grupos de debates e criar referências, que se tornam narrativas.