Apenas em 1990 a homofobia deixou de ser citada na lista de patologias registradas pela Organização Mundial da Saúde. Mas hoje, quase 30 anos depois, ainda falta muito para que gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais recebam de fato tratamento adequado no serviço de saúde e se sintam protegidos de agressões em espaços públicos. É o que afirmaram os participantes da mesa “Saúde e Segurança” do 1º Encontro LGBT da UBES, formada pelo coordenador nacional da UNALGBT, Andrey Lima, a estudante de enfermagem Gabriela Celestino e a advogada Rose Mary. A mediação foi feita por Adrian Santos, vice-presidente da Ubes no Pará, e Emerson Santos “Catatau”, presidente da UPES.
Os debatedores citaram uma cartilha LGBT do SUS, que já existe e pode servir de norte para os funcionários da saúde, mas a conclusão é que ainda falta capacitação para o respeito à diversidade se tornar realidade.
Ao fim da atividade, a estudante de enfermagem Gabriela Celestino disse que o encontro foi fundamental para sua formação profissional: “Aprendi tudo sobre LGBT que não tenho aprendido em quatro anos de faculdade. Esse conhecimento deve ser compartilhado”.
Mesa “Saúde e Segurança” no 1º Encontro LGBT da Ubes, com o coordenador nacional da UNALGBT, Andrey Lima, a estudante de enfermagem Gabriela Celestino e a advogada Rose Mary. (Fotos: Marcelo Rocha – Mídia NINJA)
Entre os secundaristas, que participaram ativamente da mesa, não faltaram relatos de despreparo enfrentados em casos de problemas de saúde, desde em consultas ginecológicas até em tratamentos psiquiátricos. O clima era de união e alguns depoimentos foram bastante comoventes.
Lua Victória, estudante de Ouro Preto (MG), contou que precisou procurar o CAPs por conta de pensamentos suicidas, uma decorrência da opressão que sentia por ser negra e gostar de meninas. “Os profissionais são bem intencionados, mas não compreendiam minha realidade. O que me salvou de verdade foi conhecer referências do movimento estudantil”, contou.
Andrey Lima lamentou que o contexto político atual seja desfavorável para o aprimoramento do atendimento, que enfim começava a ser feito. Ele fez parte de uma força tarefa do Ministério da Saúde para conduzir a Política Nacional de Saúde Integral LGBT, instituída em 2013. “Antes do golpe estávamos desenvolvendo um programa de formação sobre como a saúde mental precisa receber informações sobre machismo, racismo e LGBTfobia”, contou.
Ele também observou que “o argumento de que homossexualidade deve ser corrigida ainda é usado no Brasil” e foi aplaudido ao dizer que, devido a esta construção social, o bem-estar dessa população deve ser uma preocupação de toda a sociedade: “Não vamos conseguir um processo civilizatório se não tivermos o conjunto de setores da sociedade engajados nessa luta”.
Por Natália Pesciotta, de Fortaleza