Na tarde desta quarta-feira (12/7), estudantes tomaram a frente da prefeitura de São Paulo, no Centro, vindo de todas as regiões da cidade. Em meio às férias escolares, centenas de jovens dedicaram um dia – e duas cotas de transporte público! – para tirar o sossego do prefeito João Dória (PSDB). Isto porque a Prefeitura anunciou para agosto cortes no passe livre estudantil, uma conquista de 2015.
O grito já conhecido do movimento secundarista e universitário tomou conta do viaduto do Chá e seguiu até a Secretaria dos Transportes, também no Centro: “Não tem arrego / Você tira o passe livre e eu tiro seu sossego”. Também ouvia-se “Governo ladrão / Rouba merenda e sucateia a educação”. No final, ficou agendado um novo ato para a próxima terça, 18/7.
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A alteração da Prefeitura, já publicada no Diário Oficial, limita o passe livre nos ônibus a dois momentos por dia, para ir e voltar do local de estudo. Cada uma destas cotas pode incluir 4 embarques no período de duas horas. Até junho, eram 8 embarques diários para serem usados a qualquer hora.
Entre as palavras de ordem, apresentações de hip hop e oficina de cartazes, os estudantes reclamavam a perda do direito de locomoção gratuita para cultura, esporte e lazer, além de listar problemas no transporte público da capital paulista.
Presente no ato, a presidenta da UNE Marianna Dias afirmou que a alteração nas cotas do passe livre é absurda e prejudica os estudantes que estudam longe de casa. ”Morar longe da escola significará não conseguir sequer usar o passe livre durante o mês inteiro. Infelizmente, essa tem sido a marca do governo Dória: corta transporte, corta lazer, corta cultura… Começou com os grafites e atingiu os estudantes. Ele não gosta que as pessoas ocupem a cidade”, falou.
Nayara Souza, presidente da União Estadual dos Estudantes de São Paulo (UEE-SP), concordou que quem estuda muito longe de casa também será prejudicado com a mudança feita por João Dória: “O prefeito diz que coloca o passe livre só para os estudos, mas, ao limitar cada cota a um período de duas horas, não garante nem isso. Muitos não conseguem chegar no local de estudo em duas horas, com a distância e todos os problemas do transporte público”.
Para Emerson Santos, da União Paulista de Estudantes Secundaristas (UPES), é importante destacar que o passe livre estudantil já é uma conquista dos estudantes: “Em 2015, também ocupamos este espaço, na frente da Prefeitura, para lutar por isto. E agora estamos vendo a restrição de um direito que já conquistamos!”
No caso de Ingrid Guzeloto, moradora da Vila Guilherme, na Zona Norte, bolsista do Prouni na PUC-SP e presente no ato desta quarta, as mudanças vão acarretar mais gastos. Ela também usa o transporte para chegar ao estágio: “Eu teria que gastar parte significativa do meu salário de estagiária com passagem”.
INGRID GUZELOTO
O que faz: Estudante de Relações Internacionais na PUC e estagiária
Onde mora: Vila Guilherme
Tempo por dia no transporte: 3 horas
“Este ato é importante para mostrar que os estudantes não vão se calar. Queremos acender uma nova faísca na juventude para que todos estejam unidos contra cortes.”
“Sempre digo que o mais difícil e cansativo na vida do estudante não são os estudos, mas o transporte público”, dispara Maria Luiza, estudante da escola estadual Luiz Vaz de Camões, no Carrão. Moradora de Guaianases, ela passa 4 horas no transporte público todos os dias, numa rotina que começa às 5 horas, e quase sempre sem lugar para sentar.
Agora nas férias, as cotas diminuem e restam apenas 8 para Maria Luiza usar até o fim do mês, mas, ainda assim, ela fez questão de gastar duas para ir e voltar do viaduto do Chá: “A única forma de mostrar que temos voz e não estamos conformados é vindo aqui para a rua.”
A amiga Caroline Freitas festeja estar perto do fim do seu curso na USP, que também exigiu mais dedicação no transporte do que nas matérias. Ela leva duas horas e meia no trajeto entre casa e faculdade.
MARIA LUIZA E CAROLINE FREITAS
O que fazem: Secundarista na escola estadual Luiz Vaz de Camões e estudante da USP
Onde moram: Guaianases
Tempo por dia no transporte: 4 horas (Maria Luiza) e 5 horas (Caroline Freitas)
“A única forma de mostrar que temos voz e não estamos conformados é vindo aqui para a rua.”
Muitos presentes no ato destacavam ainda os altos preços para se locomover na cidade. “A passagem já é cara, está limitando nosso direito de ir e vir. Chama transporte público, mas na prática não é”, observou o secundarista Pedro Henrique. Para ele, esta ação do prefeito não condiz nem com o anunciado por ele em campanha. Assim como muitos presentes, ele ressalta que circular na cidade e aproveitar os espaços culturais também faz parte da formação dos jovens.
O secundarista terminou com um alerta: “A gente veio aqui dar um recado para o prefeito. É como diz o canto: ‘Acabou a paz, mexeu com estudante, mexeu com Satanás’”. Agende: na próxima terça (18/7), tem mais.
PEDRO HENRIQUE
O que faz: Secundarista na escola estadual Borges Vieira
Onde mora: Vila Alpina
“A passagem já é cara, está limitando nosso direito de ir e vir. Chama transporte público, mas na prática não é.”