Ubes – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas

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Sem você eu ando bem, mas com você ando melhor

Nem as horas de viagem, tampouco o calor beirando os 30 graus desanimaram as mais de 300 jovens que adentraram o auditório da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, entoando o grito: “nem recatada, e nem do lar, a mulherada está na rua para lutar!”. Era feriado do dia 7 de setembro de 2017, uma quinta-feira, e tinha ali o início do 4º Encontro de Mulheres Estudantes da UBES.

Durante o EME, as mesas discutiram questões fundamentais a respeito do empoderamento e da violência contra a mulher. A urgência em construir uma educação feminista também entrou na pauta, já que o modelo de ensino atual ainda reforça estereótipos e papéis de gênero.

Entre as convidadas, a pequena Helena Prestes tornou-se destaque. A neta de Luís Carlos Prestes interpretou trecho do livro “Mirela e o Dia Internacional da Mulher”, escrito por sua mãe, a cientista social Ana Prestes, em parceria com as suas duas filhas. A obra literária instiga crianças a pensarem sobre o machismo.

FEMINISMO LIBERTA, MACHISMO MATA

A novidade deste EME foi a mesa “Feminismo para quê?”, um espaço de reflexão direcionado aos garotos. O debate proporcionou aos meninos uma perspectiva sobre o papel do homem no combate ao assédio, estupro e feminicídio.

Foto: Yngrid Manarina – CIRCUS 

 

MULHERES NA RESISTÊNCIA, OCUPANDO AS ESCOLAS E O BRASIL

Em 2016, centenas de meninas lideraram as ocupações nas escolas. Desde então, as adolescentes são maioria na composição dos grêmios e no movimento estudantil.

Apesar disso, a falta de representatividade feminina nos espaços de poder continua sendo um problema. No Senado Federal, por exemplo, das 81 cadeiras disponíveis apenas 13 são ocupadas por senadoras: doze brancas, uma negra, nenhuma indígena ou transexual.

Segundo a diretora de Mulheres da UBES, Brisa Bracchi, o EME é uma ferramenta essencial para estimular a emancipação feminina. “A troca de experiências em ambientes como esse transformam não só a vida de quem participou do evento, mas a dinâmica da escola de cada menina que se empodera para lutar por uma sociedade não sexista”, explica.

Nesse sentido, a UBES cumpre um papel indispensável na formação dos coletivos feministas dentro das escolas. A organização das estudantes nesses espaços tem se mostrado capaz de provocar transformações que vão muito além das paredes das salas de aula.

DEBATE DE GÊNERO PRECISA ACONTECER

No último período, as estudantes secundaristas permaneceram na luta pela inclusão do debate de gênero nos currículos da pré-escola até o ensino médio.

A discussão de gênero nas escolas é fundamental para o exercício da cidadania, do pleno entendimento da igualdade entre homens e mulheres, e da inclusão social de lésbicas, gays, bissexuais e transexuais.

Na contramão de projetos ultraconservadores como o “Escola sem Partido”, vulgo “Lei da Mordaça”, 84% dos pais concordam com a promoção da pauta nas instituições de ensino, segundo pesquisa do Ibope, encomendada pelo coletivo Católicas Pelo Direito de Decidir, em 2017.

No entanto, a bancada evangélica tem inviabilizado o avanço das pautas feministas no Congresso Nacional. Em 2015, após pressões do grupo, o debate de gênero foi excluído do Plano Nacional de Educação (PNE).

A CULTURA DAS MULHERES MUDA O MUNDO

A cineasta Tatá Amaral, que participou do 4º EME, integrou o movimento estudantil nos anos 1970, quando os coletivos de mulheres ainda tinham pouca expressão. Tatá foi a primeira de sua geração a gravar um curta e longa-metragem.

Para ela, a cultura das mulheres muda o mundo. “Uma sociedade como a nossa – e eu não estou falando só do Brasil, mas da América Latina e até do mundo – é uma sociedade que mata mulheres, por isso precisamos que a cultura das mulheres seja praticada em todos os lugares em que a gente vai. Precisamos ouvir as vozes femininas. Ouví-las na música, na poesia, no cinema e nas representações artísticas”, disse durante o encontro da UBES.

Originalmente publicado na Revista da Gestão 2015 – 2017.