“Aqui tem um bando de loucos, loucos por democracia. Tem juiz que acha que é pouco. A Rede Globo mente todo dia.” A palavra de ordem dos estudantes liderou, na noite desta terça-feira (23), a enorme manifestação contra a condenação arbitrária do ex-presidente Lula em Porto Alegre. Oitenta mil pessoas romperam pela avenida Borges de Medeiros, centro capital gaúcha, após um grande ato que contou com discursos de diversas lideranças políticas, incluindo o próprio Lula e a presidenta Dilma Rousseff. Foi a maior atividade da jornada de lutas pela democracia que os movimentos sociais têm realizado na cidade nos últimos dias.
Participaram do ato estudantes, trabalhadores sem terra, sem teto, centrais sindicais, representantes dos movimentos de mulheres, negros, LGBT, pessoas de todas as regiões do país e de diversos países do exterior. Na Esquina Democrática, ponto emblemático da luta política no Rio Grande do Sul, a multidão se aglomerou para ouvir o ex-presidente. “Não vim aqui para falar do meu processo. Tenho apenas a expectativa de que o julgamento leve em conta os autos do processo e não as convicções políticas dos juízes”, disse ele em referência ao julgamento desta quarta-feira (24) no Tribunal Regional Federal (TRF) 4.
Ele criticou os retrocessos no país, a partir do golpe de 2016 contra a presidenta Dilma, e disse que a tentativa de condená-lo vem da necessidade de manter esse cenário. “Eles querem é ter liberdade para continuar desmontando o Prouni, o Fies. Eles sabem que fomos nós que criamos mais vagas nas universidades, mais escolas técnicas, que descobrimos o pré-sal e decidimos investir os royalties na educação. Não querem mais isso”, disse. Segundo Lula, independente do resultado do julgamento, ele estará firme na luta. “Prometo que em fevereiro começarei uma caravana aqui pelo Rio Grande, em São Borja (cidade natal de Getúlio Vargas) para buscar a retomada do que nos tiraram”.
Os estudantes estarão mobilizados nesta quarta, em Porto Alegre e outras cidades do país, durante o julgamento no TRF 4. Em um gesto ousado, na última segunda-feira (22) a UBES e a UNE transferiram a sua sede para a capital gaúcha, assim como aconteceu em 1961, durante a Campanha da Legalidade pela posse legítima do presidente João Goulart. Segundo o presidente da UBES, Pedro Gorki, trata-se de um dever democrático dessa geração.
“Não apoiamos especificamente a candidatura Lula. Mas sim o direito de qualquer um ser candidato no país sem ser perseguido. O julgamento político deve ser feito é pelo povo nas urnas”, declarou.