A um quilômetro do tribunal que julgava o recurso do ex-presidente Lula em Porto Alegre, na quarta-feira (24/01), o Acampamento da Democracia mostrava a cara e a força dos movimentos sociais que pretendem resistir aos ataques à democracia e julgamentos arbitrários. Entre as milhares de pessoas de todo o Brasil, se reuniam no espaço movimentos autogestionados, adultos, idosos, crianças, adolescentes.
Em meio às barracas e ao cenário político conturbado, uma roda de conversa do Circuito de Cultura Secundarista (Circus) foi um momento importante de sensibilidade naquela tarde dura, nos entornos do Anfiteatro do Pôr do Sol. Os estudantes de Ensino Médio reunidos ali provavam que a arte é o melhor caminho para chegar à consciência e ao diálogo.
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Organizados em círculo, as garotas e garotos se revezavam em apresentações de música e poemas, falando também sobre o sonho de expandir a arte na sua escola, no seu bairro. Por exemplo: antes de mandar um rap seu, um estudante carioca comentou como o hip hop ajudava na formação dos seus colegas e vizinhos no Morro do Alemão: “Sem perceber, o pessoal aprende muito sobre política e sociedade pelo rap”, disse.
A estudante Francielle Silva dos Santos, de Maringá (PR), enfrentou o nervosismo de falar na frente de todo mundo para mandar um recado importante e muito aplaudido: “A gente quer cobrar atitude da favela, mas esquecemos que a favela não recebe a formação necessária”. Ela acha que o jovem não pode ser culpado por falta de engajamento, mas que o estímulo à arte pode ser ferramenta importante de autoestima, pertencimento e, com isso, cidadania.
Entre músicas e versos, todos concordaram que a cultura podia ter este papel fundamental de despertar consciências e fazer com que estudantes fossem mais atuantes sobre sua própria escola e seu contexto.
“É disso que estamos falando! Olha o engajamento que um violão inspira”, comemorou Isabela Queiroz, diretora de Comunicação da UBES, sobre a empolgação coletiva que o sarau causava.
Difícil alguém que tenha passado pela roda dos secundas no acampamento sem se envolver. Até o motorista da Kombi estacionada em frente quis participar com suas rimas. Um militante não pôde segurar o choro ao acompanhar “Tempo Perdido”, música do Legião Urbana, tocada por Malcon Ozório, o “Bigode”, da AMES Rio de Janeiro.
A fala seguinte veio emocionada. “Eu olhei o camarada ali chorando e também me emocionei. O Circus é uma baita iniciativa. Eu queria dizer que vai ter jovem querendo fugir para Londres, para os Estados Unidos, mas nós não vamos recuar e desistir do nosso país”, disse Luciano Becher, 17 anos, segurando as lágrimas.
A roda ia continuar quando um vento forte de chuva apareceu. Com ele, vinham notícias de que o julgamento estava se encerrando e que um policiamento pouco amigável poderia chegar ao acampamento.
“Infelizmente, precisamos encerrar nossa atividade em um momento e um contexto que não é o que queríamos”, lamentou Isabela. Mas os jovens já tinham mostrado que, se é para enfrentar tempestades, eles sabem o caminho. E irão cantando.
O Circuito de Cultura Secundarista foi refundado no ano passado com a ideia de ser uma rede para as expressões artísticas das escolas. “Esse é o circuito de quem quer uma outra escola, criativa, diversa e libertadora. Somos estudantes de todas as artes e todas as partes”, diz o manifesto.
Quer se somar ao Circuito? Basta ser estudante, gostar de arte e preencher ESTE FORMULÁRIO.