Quem estuda ou já estudou em uma escola pública certamente vai se reconhecer no filme “Eleições”, de Alice Riff, que estreia em março nos cinemas e poderá ser exibido em qualquer lugar pela plataforma Videocamp.
Ao acompanhar o processo eleitoral do grêmio estudantil em um colégio paulistano, o longa acaba fazendo um retrato do cotidiano da maioria das escolas brasileiras. Funk no intervalo, goteiras na sala de aula, xingamentos na porta do banheiro… Todas estas questões comuns ficam muito vivas na Escola Estadual Doutor Alarico Silveira durante a disputa entre quatro chapas bem diferentes.
Estudantes refletem e recriam a sociedade brasileira naquele pequeno ambiente: tem uma chapa de meninas chamada “Rosa”, em homenagem à revolucionária polaco-alemã Rosa Luxemburgo, uma composta por LGBTs com a bandeira da diversidade, uma liderada por um jovem cristão e a chapa da “turma do fundão”.
O telespectador pode acompanhar uma transformação nos estudantes e no dia a dia da escola durante os três meses de processo eleitoral e, provavelmente, acabará até torcendo pelo grupo com a qual mais se identifica, além de observar o amadurecimento e interesse de todos eles.
Tudo muda quando cada um passa a argumentar, se relacionar, conversar com os outros e pensar sobre seus sonhos para o lugar onde passa a maior parte do tempo.
Dá para entrar nas rodinhas de conversa, corredores, salas de aulas e reuniões. Isso porque o filme foi construído junto com os estudantes, em vez de os filmar de cima para baixo.
“Eleições” fala sobre educação e sobre juventude, mas, principalmente, sobre o processo de construção de ideias, participação, engajamento e protagonismo. “A gente vê que democracia é uma construção”, comentou a diretora Alice Riff, durante um bate-papo após seção especial nesta quarta (19/2), em São Paulo.
“É nítido como a escola passa a fazer mais sentido para os alunos”, observou ainda.
Uma das especialistas presentes no bate-papo pós-filme, Jane Reolo da Silva, mestre em Educação e diretora escolar por décadas, destacou a importância da democracia para potencializar as capacidades humanas.
“A diversidade é ameaçada com a proposta de militarização, por exemplo, onde você escolhe um padrão para o cabelo, um padrão para o movimento corporal. Acreditar na capacidade humana é acreditar na diversidade”, completou, sobre a construção de identidades e cidadania.