Já preocupados com a pandemia do novo coronavírus e a suspensão do ano letivo, estudantes receberam com surpresa a publicação do edital do Enem 2020 na terça, 31 de março. O abaixo-assinado #AdiaENEM, da UBES e da UNE, foi criado no dia seguinte e já reúne mais de 20 mil assinaturas. A tag foi para os TTs do Twitter na quarta.
Isto porque o governo federal manteve as mesmas datas pensadas para o exame antes da pandemia do novo coronavírus: inscrições em maio, prova virtual em outubro e física em novembro. Só que a pandemia já deixa mais de 80% de estudantes do planeta em casa, segundo a Unesco.
“É uma irresponsabilidade manter o cronograma do Enem como se nada estivesse acontecendo. Estamos com as aulas suspensas e ainda não sabemos como cada rede vai se adaptar”, diz Pedro Gorki, presidente da entidade secundarista.
“Isso é segregar ainda mais quem já tem o acesso à universidade prejudicado. É acentuar as diferenças”, explica Gorki, ao lembrar que a prova é historicamente uma porta de entrada democrática ao ensino superior.
O principal problema com a realização da prova é a insensibilidade em relação aos conteúdos perdidos durante a suspensão das aulas. Para o ministro da Educação, Abrahan Weintraub, todos os estudantes estão sendo igualmente prejudicados. A realidade, porém, é de muitas diferenças no acesso ao ensino a distância.
Desde a necessária suspensão das aulas, muitas escolas tomaram a decisão de seguir o ano letivo na versão online. Mas para muitas redes e instituições isso não é uma realidade, pois grande parte dos alunos não teria fácil acesso. Nas classes D e E, apenas 30% dos lares têm acesso à internet, metade apenas pelo celular.
A nota das entidades estudantis sobre o Enem lembra ainda que, mesmo para quem continua com as aulas virtuais, “o aproveitamento do ensino-aprendizagem fica fortemente em defasagem”.
É o caso de Jade Beatriz, por exemplo. A escola técnica estadual Dona Creusa do Carno Rocha, onde estuda em Fortaleza, optou por manter as aulas a distância. “Eu nunca pensei que sentiria tanta falta das aulas presenciais”, conta. As dificuldades para cumprir a rotina em casa é a mesma para muitos secundaristas.
Já Luiza Coelho, estudante do Instituto Federal do Maranhão, teve as aulas suspensas. Ela acredita que foi a melhor decisão, pois entende que muitos colegas não teriam ferramentas e ambientes para ter o mesmo acompanhamento. Enquanto isso tenta manter os estudos, com foco no ENEM, mas a preocupação é grande.
“Vejo pessoas tendo aula online, com atividades para fazer, principalmente de escolas particulares, e dá muita ansiedade. Tento focar nos estudos sozinha, mas é bem difícil com tudo que estamos vivendo”, conta a secundarista de 17 anos.
Desde a chegada do novo coronavírus ao Brasil, a UBES tem se posicionado pela urgente suspensão das aulas e medidas governamentais que tornem possível o isolamento. A principal preocupação é com a previsão de superlotação dos sistemas de saúde. Acompanhe as campanhas e posicionamentos pelo nosso Instagram, Facebook e Twitter.
Veja também: