Por Pâmela Layla, diretora de Mulheres da UBES*
Quando eu paro e observo o meu passado no ensino fundamental, vejo que me fez muita falta ter uma autoestima elevada. Nunca me achei muito bonita na infância, e sabemos como isso é necessário em alguns espaços. Acabei crescendo insegura com meu corpo, meu cabelo e com a cor da minha pele.
Hoje, consigo ver mais meninas negras empoderadas, na minha instituição de ensino e no movimento estudantil. Acredito que seja um grande resultado das pautas que tanto levantamos diariamente, voltadas aos nossos cabelos e corpos afro, também dentro das escolas. Mas ainda é preciso melhorar bastante.
“Hoje, consigo ver mais meninas negras empoderadas, na minha instituição de ensino e no movimento estudantil. Acredito que seja um grande resultado das pautas que tanto levantamos diariamente.”
Por ser o caminho do conhecimento para o mundo, para as culturas, raças, gêneros, o ambiente escolar é também o lugar onde reconhecemos nossas identidades, corpos, estilos, ideais. Mas, neste lugar que deveria ser de aprendizado e formação, também estamos sujeitas a sofrer com o racismo e o machismo. Por sermos mulheres negras, passamos por uma dupla discriminação por gênero e raça. Nunca foi fácil assumirmos quem realmente somos, nossos cabelos, nossa pele.
Me lembro muito bem de quando comecei a assumir meu cabelo crespo, no 8° ano. Uma tia me inspirou bastante, mas sentia um grande medo de ir com o cabelo solto para a escola. Frequentemente os meninos e as meninas ofendiam quem tinha cabelos como o meu. Perguntavam se molhava, como a gente penteava, chamavam de “bombril”, “cabelo ruim” e vários outros comentários muitos ruins. E eu não procurava a direção, pois não havia abertura para diálogo, e temia que as ofensas só aumentassem.
Agora vejo como a escola poderia ter contribuído com essa etapa. São muitos caminhos e possibilidades para que o ambiente escolar seja saudável para nossa autoestima e para uma sociedade menos racista e machista. Nos apresentar mais exemplos de meninas pretas empoderadas, por exemplo, seja na música, em histórias, na literatura. Discutir esses temas. Promover atividades culturais que nos incentive a reconhecer nosso cabelo, nossos corpos.
Autoestima, empoderamento e combate ao preconceito são três eixos essenciais para melhoria da escola e da sociedade. Não faltam histórias com heroínas negras ou canções que abordem preconceito, racismo e autoestima. Mc Soffia, por exemplo, é uma cantora e compositora que eu adoraria ter conhecido mais nova, na escola.
Entre as atividades, pode haver oficinas de turbante e penteados afro, espaço para compartilharmos nossas experiências, debater consequências do machismo e do preconceito racial. Um grêmio livre e ativo certamente é parceiro nesse caminho por uma escola livre de qualquer tipo de opressão.
*Pâmela Layla tem 17 anos e estuda no Instituto de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), em Fortaleza.