Pamella Silva tem 21 anos e é uma das pessoas que estuda para o Enem e mantém o sonho de entrar na faculdade, mesmo com a pandemia. Enquanto isso, ela tenta se manter como entregadora por aplicativo e aprende na prática como a “uberização” do trabalho tem dificultado a juventude de ter direitos, perspectivas e cidadania.
“Só queremos trabalhar com mais dignidade e segurança”, conta ela, que participa do grupo Entregadores Antifascistas no Recife (PE). Neste sábado (25/7), entregadores do Brasil todo fazem seu segundo “Breque dos Apps”, após grande mobilização no dia 1o de julho. As reivindicações são condições básicas como valor mínimo para corridas, recebimento de álcool em gel e máscaras.
Nesta entrevista, Pamella conta como é importante lutar para manter perspectivas de futuro, conseguir melhorias coletivas para toda sua categoria e geração. (Para apoiar a luta, siga os Entregadores Antifascistas!)
UBES: Quais os maiores problemas de trabalhar como entregadora de app hoje?
Pamella: Um dos maiores problemas é que não temos nenhum direito garantido e os aplicativos não se responsabilizam por nada que acontece conosco. É difícil trabalhar na rua sem garantias mínimas.
A gente paga pra trabalhar, não acho digno isso. Trabalhamos o dia inteiro, por horas seguidas debaixo de sol e chuva, para ganhar pequenas taxas, é injusto. Infelizmente não podemos parar pois é a única renda que conseguimos tirar, por isso reivindicamos melhorias.
UBES: Você participou da greve do primeiro Breque dos Apps?
Participei sim! Eu faço parte de um grupo de Entregadores Antifascistas que lutam pelas melhorias no nosso trabalho. Juntei as forças com outras pessoas que conheci nesse período e organizamos essa grande greve que deve se repetir no sábado.
UBES: Você tá estudando ainda? Pretende entrar na faculdade?
Sim, estou estudando para entrar na Enem! Eu tenho uma programação diária para me dedicar aos estudos. Não é fácil já que concluí o ensino médio há 4 anos, mas separo três horas do meu dia para me preparar e manter o foco. Espero passar em Educação Física.
UBES: O que te levou a trabalhar como entregadora de aplicativo?
Eu comecei a trabalhar como entregadora, pois perdi o emprego no começo da pandemia. Eu tive que procurar um renda para pagar minhas contas e essa foi a única forma que enxerguei para me manter nesse período. Quando entrei, eu não sabia que era assim. Imaginei que havia uma certa dificuldade, mas não dessa forma.
UBES: Se você pudesse criar uma realidade nova pós-pandemia, o que seria mais importante para você?
Eu gostaria de ver serviços como esses de entrega sendo mais valorizados com garantias mínimas para os trabalhadores. Há pessoas que não podem parar, tenho colegas que estão há anos trabalhando com entrega por não conseguir arrumar outra coisa. Só queremos trabalhar com mais dignidade e segurança.