É muito difícil encontrar uma estudante negra que não teve experiências negativas na escola. As lideranças que constroem a UBES não fogem dessa regra, e é por isso mesmo que se sentem tão empenhadas em lutar por um cenário diferente. Neste #JulhoDasPretas, a UBES debate a potência da escola para ser um lugar de construção da identidade e de uma sociedade menos machista e racista, durante e após a pandemia.
Rozana Barroso é a primeira presidenta negra da UBES e hoje, quando estuda para ser a primeira da sua família a entrar na universidade pública, se orgulha da sua história e identidade. Mas nem sempre foi assim! “Na escola, as pessoas chamavam meu cabelo de vassoura. Me marcou muito essa sensação de estar vulnerável naquele espaço longe de casa”, conta.
Para a fluminense de Campos dos Goytacazes, conhecer essa realidade inspira a lutar por mudanças: “Temos falado muito sobre racismo nestes tempos de pandemia. Queremos uma escola que promova a inclusão, não a exclusão. A educação deve ser aliada à luta antirracista”.
Mas o que pode ser feito? A lista é grande e começa na defesa de um ambiente escolar com diálogo e espaço para o protagonismo estudantil. Julienne da Silva, secretária geral da UBES, lembra como se encontrou no movimento estudantil, após passar por um episódio de racismo na escola.
Para ela, o avanço passa pela compreensão do racismo e machismo pelos profissionais da educação, mas também por uma adaptação dos conteúdos e currículos. “A escola não pode permitir que apenas pessoas brancas contem a sabedoria dos seus ancestrais. Entender a história negra é fundamental para nos empoderarmos a partir dela.”
Uma das principais lutas da UBES é pela aplicação da lei de ensino da história e cultura afro-brasileira, africana e indígena. Apesar de vigorar há 15 anos, a diversidade racial não está na pauta de 52% das escolas públicas no Brasil, de acordo com o Censo Escolar de 2015.
Além disso, muitas atividades extra-curriculares são possíveis para um espaço democrático, se houver interesse e liberdade.
Diretora de Mulheres da UBES, Pâmela Layla não encontrou espaços de diálogos quando se sentiu oprimida no ensino fundamental, ao assumir seus cabelos crespos: “Sentia um grande medo de ir com o cabelo solto para a escola. Frequentemente ofendiam quem tinha cabelos como o meu, mas não havia abertura para diálogo com a direção, temia que as ofensas aumentassem”.
Para um ambiente mais diverso, ela dá alguns exemplos de caminhos: promover debates sobre racismo e machismo, abrir espaços para estudantes trocarem experiências, oficinas de turbantes e cabelos afro, exibição de filmes, músicas e apresentação de leituras com heroínas negras. “Um grêmio livre e ativo certamente é parceiro nesse caminho por uma escola livre de qualquer tipo de opressão”, completa.
Agora estudante do ensino médio, a cearense de 17 anos vê um avanço em relação a anos anteriores e avisa que a luta tem transformado, sim: “Hoje, consigo ver mais meninas negras empoderadas, na minha instituição de ensino e no movimento estudantil. Acredito que seja um grande resultado das pautas que tanto levantamos diariamente, voltadas aos nossos cabelos e corpos afro, também dentro das escolas”.