Apuração faz levantamento de crimes contra os direitos humanos atribuídos a agentes do Estado que atuaram na repressão do movimento
Em toda a história do Brasil, não houve um só momento que as graves violação dos Direitos Humanos não fossem transpassadas por lutas de combatentes revolucionários pela liberdade e democracia no país. A Guerrilha do Araguaia é uma delas e recebe nesses dias 8 e 9 de setembro a atenção da Comissão Nacional da Verdade (CNV).
Convocados em Brasília, nove dos agentes que aturam na repressão nos anos 70. Segundo informações da comissão instituída com a finalidade de apurar graves violações ocorridas entre 18 de setembro e 5 de outubro de 1988, oito dos convocados já haviam recebido o chamado e não compareceram.
Em declaração publicada pela agência Brasil, oficial da reserva José Conegundes, se recusou a depor na segunda-feira (8). “Não vou comparecer. Se virem. Não colaboro com o inimigo”, afirmou na CNV.
Para o coordenador da comissão, Pedro Dallari, a hostilidade deste e de outros militares foi estimulada pela resistência das Forças Armadas em reconhecer as violações aos direitos humanos cometidas durante a ditadura (1964-1985).
Entre as atribuições da CNV, um Grupo de Trabalho dentro é destinado à pesquisa do evento conhecido como “Guerrilha do Araguaia”, focado nas operações militares, mortos e desaparecidos da região.
Com operários, camponeses, bancários, médicos, engenheiros, geólogos e, principalmente, estudantes universitários, a Guerrilha do Araguaia destinada a organizar a resistência armada contra a ditadura entre 1972 e 1974. Na época da ditadura militar, a região em que a guerrilha ocorreu foi palco da maior resistência armada contra o regime ditatorial. O local recebeu um contingente militar comparável ao da Força Expedicionária Brasileira (FEB), que lutou na Europa durante a Segunda Guerra Mundial.
O movimento guerrilheiro, organizado pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB), resistiu com o apoio dos camponeses que ali viviam se constituindo com marco das lutas populares. Para aniquilar a resistência, houve uma repressão brutal, na qual guerrilheiros e os moradores foram alvo de torturas e assassinatos. Considerado um dos episódios mais violentos registrados durante o último período militar, segundo a comissão, no desaparecimento de 70 militantes e moradores da região e na morte de oito militares em circunstâncias nem sempre devidamente esclarecidas.
A Comissão Nacional da Verdade foi criada pela Lei 12528/2011 e instituída em 16 de maio de 2012. O foco principal será apurar casos de desaparecidos políticos.
De acordo com o livro-documento Direito à Memória e à Verdade, elaborado pelo governo federal, há 150 casos de opositores do regime militar que desapareceram após serem presos ou sequestrados por agentes do Estado.
Em 2010, o Brasil foi condenado na Corte Interamericana de Direitos Humanos da OEA em ação movida por familiares de mortos e desaparecidos na Guerrilha do Araguaia, na região de Marabá, no Pará.
Da Redação, com Agências