É impossível que estudantes não se identifiquem com os nove jovens mortos durante operação policial em um baile funk neste domingo (1º/12), em uma das maiores comunidades de São Paulo. Afinal, todos tinham idade entre 14 e 23 anos, eram em sua maioria negros e periféricos. São jovens como Dennys Franco, de 16 anos, que estudava, trabalhava como jovem aprendiz e sonhava ser “um dos favelados que vai conquistar o mundo”.
Por isso, a juventude estará presente no ato “Massacre de Paraisópolis: Não foi acidente, é genocídio”, organizado pela Coalizão Negra por Direitos para acontecer em frente à Secretaria de Segurança Pública de São Paulo nesta quarta, 4/12, às 17h.
“O que aconteceu em Paraisópolis é o resultado de um Brasil doente”, afirmou Pedro Gorki, presidente da UBES, em postagem no instagram. Embora o governador João Dória tenha defendido a política de “segurança pública” , muitos vídeos mostram abusos e agressões policiais contra jovens desarmados.
O movimento negro e o movimento estudantil têm denunciado o racismo institucional neste tratamento, pois nunca houve ação semelhante em grandes festas e festivais fora da periferia. Além disso, este tipo de política é incentivada pelo governo de Dória em São Paulo.
Ao vencer as eleições, o governador disse que a polícia passaria a “atirar para matar”. O seu governo deu uma promoção ao chefe da Rota, Ricardo Mello Araújo, o mesmo que defende que “abordagem nos Jardins [bairro rico da cidade] não deveria ser o mesmo da periferia”.
Morador de Paraisópolis, Thaynan Diniz compõem a UMES-SP e classifica em vídeo os acontecimentos como criminalização da juventude negra. “Este tipo de ação policial tem endereço certo”, diz.
Em vídeo no YouTube, Débora Nepomuceno, vice-presidenta da UBES, lembra que o caso em Paraisópolis se soma a tantos outros da história recente, em que jovens periféricos e negros tiveram o futuro interrompido, como se suas vidas não importassem. “A cada 23 minutos um jovem é assassinado no Brasil. É um erro falarmos de racismo apenas no mês da consciência negra”, diz ela.
É o caso dos cinco jovens assassinados em Maricá, em 2018, de Pedro Gonzaga, assassinado pelo segurança de um supermercado, em fevereiro, e tantos estudantes voltando da escola no Rio de Janeiro, como Ágata Félix, este ano, e Marcos Vinícius, no ano passado.
A UBES também vem denunciando a criminalização do funk. Em outubro, o 17º Conselho Nacional de Entidades Gerais da UBES aprovou uma moção de solidariedade ao DJ carioca Renan da Penha, do Baile da Gaiola, preso em abril. Segundo a nota, a prisão fez parte de repressão à cultura negra e periférica: “Tendo em vista que o Baile da Gaiola e seus ritmos se nacionalizaram e tocam em grandes eventos – tal qual o Rock in Rio – é perceptível que os ataques são direcionados estritamente à cultura periférica majoritariamente negra”, diz a nota.